Com esta Proa até ao fim!

Exprimia alguém, já em quase fase de regresso, que para ali tinha embarcado com o intuito de gerar amizades. Ah! Que tão só dependesse isso da porção de dias ou dos extensos e tonificantes quilómetros de areia. Ora uns em Mar, ora outros em Ria. Em alguma água teriam eles de começar a remar. Contavam-se os segundos e também a lenha era bem avaliada. Sisal, diziam eles. Nomes e mais nomes. Caras e mais caras. Barqueiros ao início, direitos futuramente… Como se algum dia tortos teriam sido. À socapa, e como quem não quer ver a coisa, a eles se aliavam uns quantos cegos que, e porque não, também barqueiros no fim voltariam a ser. Coitados. Tanto em chuva como sob calor juntos permaneceram. Quiçá não terão sido as condições meteorológicas uma dissimulação de S. Pedro que a todos nós pescadores converteu.
Em Mar Companha, em Ria Cais. Meu querido Cais da Béstida, tanto me dizes e a tantos evocas. A ti associo a voz mais orgulhosa e a cor mais bela, o hino mais soberbo e o pigmento mais homogéneo. Por ti faremos com que o Mundo te escute e com que o Laranja nunca desvaneça. Por ti faremos com que não desapareçam as rodilhas para o sustento das compostas canastras e com que haja sempre alguém disposto a suportar o peso da canga. Não é o peixe que carregamos. Entre nós transportamos espírito, companheirismo e orientação. Somos inteligência, empatia e fé. Contra corrente, muitas vezes, velejamos e, mesmo quando submersos, em duradouras rotas navegamos. Moço não desiste. Moça também não o faz.
Em braço de Mar aos mais nobres moliceiros acenei. Em braço de Mar as mais formosas proas descobri. Graças a ti, meu querido Cais. Nosso eterno Cais da Béstida. Comigo guardo todos os sorrisos, conquistas e ramboias. Não tivesse o escuta sempre boa disposição de espírito – e umas guitarras a acompanhar. O preceito moral de que “Pioneiro que é Pioneiro não chega atrasado” a todas as 7 baladas matinais renascerá e o alívio de não ter de rapidamente me uniformizar para o hastear da bandeira será evidente. Nenhum guia ficará indiferente aos três apitos e saudades emergirão do caminho à intendência que todos, de certa forma, de bom agrado teimavam em abdicar. A magia do tomatinho que ketchup virou nunca desaparecerá e, bem… Cheiram a leitinho! O universo parará assim que o Aleluia e o Lacrimosa forem entoados pelos nossos tão famosos Carecas, e com as gorjetas irrogáveis finalmente o Travesti terá dinheiro para abonar os seus sequiosos negócios. Nem eles do escaldão se safaram. Guardo comigo os três inexplicáveis dias de raid que em tanto para a minha felicidade contribuíram. Fosse tão só às custas dos azimutes e das coordenadas UTM que a tantos dores de cabeça provocou, ou pela paciência e concentração necessária aquando a decifração de códigos. Não. Também as jangadas que a meio do percurso contra os seus integrantes viraram e os golpes da traiçoeira ponte de madeira construída pelos Chefes ficarão para a história. A vocês, grandes Chefes, obrigado! Aprovadíssima a canja, a carne grelhada e a salada para jantares durante o raid. Igualmente aprovada a alvorada às 8h45. Aprovadíssima! Quem se importa assim de almoçar ração de combate? Saudade. Guardo comigo todas as gargalhadas e sintomas de alegria que cada um ao seu jeito foi demonstrando. A euforia gerada no tolde ensaboado que tantas camisolas “lavou”, compensou, sem sombra de dúvidas, a dormida em cimento. Das bolhas, as pobres, não sentirei falta – dada talvez a sua inexistência. A minha vaselina, no entanto, em muito se vai ressentir. Que venham mais 60! Quilómetros, claro.
Tudo isto comigo sempre guardarei e nunca deixarei de recordar. Porque se há coisas que são para a vida, este Cais é uma delas.
Exprimia alguém, já em quase fase de regresso, que para ali tinha embarcado com o intuito de gerar amizades. E, contudo, dali consigo uma família levava. Faço das suas palavras as minhas. Um gigante obrigado ao Chico, que durante estes maravilhosos 7 dias foi o pai desta tão admirável família. Um verdadeiro líder. O melhor líder! Missão cumprida, Chico. Um enorme obrigado aos nossos Chefes e a todos nós que, juntos, tornámos exequível a concretização desta épica e memorável semana. Obrigada Escuteiros, obrigada Torreira. Obrigada MaRia Mar. Até à próxima, desta vez já com voz.

Ser escuteiro é definitivamente ser feliz.
Regulus

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